Uma das maiores dificuldades das empresas é criar um sistema de remuneração que molde os incentivos de curto e longo prazo. Remuneração fixa versus remuneração variável? Ou, ainda, um equilíbrio entre as duas possibilidades? A resposta é: depende. Não existe um modelo certo ou padrão para todas as empresas. Depende de como você quer criar um dos sistemas de incentivos do negócio.
O sistema de remuneração das empresas é um dos pontos mais sensíveis. Escutamos que a empresa cresce pouco ou que os funcionários estão desmotivados, mas não discutimos com seriedade e transparência esses pontos. A empresa cresce pouco porque o mercado ou setor dela está em declínio ou pelo fato dos funcionários receberem uma remuneração abaixo da média do setor, acabam trabalhando com menor empenho?
O modelo de remuneração em muitos setores mudou. Como manter pessoas motivadas com remuneração fixa? Seria o caso de uma remuneração fixa um pouco mais baixa ou na média do setor e uma parcela complementar de remuneração variável que aumentaria um pouco a remuneração final pelo desempenho?
Precisamos ficar atentos. O modelo de remuneração influencia o comportamento. Se uma pessoa recebe uma parcela de remuneração fixa muito pequena e uma parcela variável muito alta, muito provavelmente, você precisará ter algum mecanismo para monitorar comportamentos que desviam das condutas e do código de ética da empresa. Não que todas as pessoas passarão a atuar mal-intencionadas, mas existem muitos exemplos de como um pacote de remuneração agressivo pode comprometer a geração de valor sustentável das empresas.
De maneira oposta, trago um exemplo prático de uma palestra que ministrei para administradores anos atrás em uma faculdade na Grande Vitória. Perguntei na plateia de umas 120 pessoas quantas recebiam remuneração variável. Uns 30% levantaram as mãos. Perguntei novamente quantas recebiam remuneração variável, mas não de comissão de vendas, mas sim de participação nos resultados líquidos das empresas (bottom line ou lucro líquido). Agora uns 5 levantaram as mãos. Faço a pergunta final: quais de vocês cinco pararam para examinar as demonstrações contábeis das empresas para saber se o que receberam está correto. A resposta foi: nenhum! Então, se alguém que pode interferir na demonstração do resultado, entre a receita e o lucro líquido final, começar a reconhecer despesas artificialmente (mas dentro das leis e normas contábeis), naturalmente o resultado será menor, logo, menor participação nos lucros (e menos dividendos para os sócios também).
Enfim, todos precisam estar atentos e o desenho do sistema de remuneração tem que ser claro e ter métricas quantitativas e qualitativas. Por exemplo, conversão de orçamentos enviados em vendas efetivadas, volume de vendas etc. Na outra ponta, satisfação dos pares, clima organizacional etc. Não existe regra única, mas as cartas precisam estar na mesa e tudo precisa ser muito bem discutido e alinhado.