Por: José Elias Feres de Almeida
Toda empresa precisa ter escrituração contábil dos eventos ocorridos. Essas informações são úteis para a tomada de decisão quando agregadas e transformadas em demonstrações contábeis. Somente assim podemos saber qual foi o desempenho do negócio sobre os investimentos dos sócios (patrimônio líquido), o que chamamos de retorno sobre o patrimônio líquido (ROE) ou retorno sobre o ativo total (ROA).
A informação para tomada de decisão deveria nascer do próprio modelo contábil e não de bases fiscais. No primeiro caso teríamos a realidade do negócio e no segundo caso, a realidade fiscal. A contabilidade elaborada com base fiscal como fonte primária para a tomada de decisão pode levar riscos para interpretar a realidade dos negócios.
Vamos visualizar o exemplo a seguir. A empresa Anatomia tem receita de serviços de consultorias de R$ 100.000 no exercício social e somente duas despesas, a de depreciação de seu carro e despesas administrativas totais de R$ 50.000. Pela contabilidade fiscal (tabela da Receita Federal), veículos dessa categoria são depreciados pelo prazo de 5 anos e uma taxa de 20% ao ano.
Suponha que o veículo custou R$ 100.000 seja usado somente para levar os consultores aos clientes e trazê-los de volta para o escritório. A empresa entende que o veículo vai ser utilizado pelo período de 10 anos, ou seja, a depreciação para refletir a realidade do negócio é de 10% ao ano (sem valor residual para simplificar ainda mais).
Nesse caso, o lucro fiscal seria de R$ 30.000 (100.000-20.000-50.000), enquanto o lucro que representaria a realidade empresarial seria de R$ 40.000 (100.000-10.000-50.000). Se a empresa tiver um ativo total de R$ 100.000 e patrimônio líquido de R$ 70.000. Logo, teríamos um ROE fiscal de 43% e um ROE real de 57%. Enquanto o ROA fiscal seria de 30% e o ROA real de 40%.
Isso nos mostra, de maneira simplificada, que independentemente do porte da empresa, muitas decisões podem estar sendo tomadas com base em realidades diferentes, o que pode impactar o negócio.
Qual realidade você quer representar para tomar sua decisão? Você pode e deve ter as duas contabilidades, converse com seu contador. Tome decisões com base nos números.
Essa reflexão nos remete a compreensão de que o fisco é um usuário da contabilidade que tem a prerrogativa de exigir as informações de acordo com seu modelo de forma obrigatória. Porém, como visto esse modelo não atende aos anseios e necessidades dos empresários por informações para a tomada de decisão de forma adequada. Por isso manter uma contabilidade baseada nas nomas e princípios contábeis se torna fundamental.
Concordo, é uma mudança cultural, de treinamento e de demanda dos usuários da informação contábil. Na medida em que os empreendedores e empresários são demandados por informações melhores, eles terão que reagir e atender essas demandas. Obrigado!